Como a escalada da guerra contra Irã impactará combustível no Brasil?

23/06/2025 – Os estados do Norte e Nordeste devem ser os mais afetados diretamente pelo aumento do preço do petróleo após a entrada dos Estados Unidos no conflito entre Israel e Irã e o possível fechamento do estreito de Ormuz. A avaliação é do presidente executivo da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), Sérgio Araújo.

O que aconteceu

Irã ameaça fechar o estreito de Ormuz após ataques dos Estados Unidos a instalações nucleares do país. Medida poderia impactar toda a cadeia de combustíveis, já que passa pelo canal cerca de 20% de todo o petróleo do mundo. No Brasil a expectativa é de que o impacto seja sentido mais diretamente nas regiões Norte e Nordeste, onde a maior parte dos combustíveis é produzido por refinarias privadas e não pela Petrobras.

Segundo Sérgio Araújo, isso ocorre porque as refinarias privadas precisam repassar o aumento de valores do petróleo que compram. Diferente da Petrobras, que tem segurado o preço dos combustíveis e adota valores defasados em comparação ao mercado internacional, as refinarias privadas praticam o preço internacional do combustível.
No Nordeste a Petrobras conta apenas com uma refinaria, de Abreu e Lima, em Pernambuco. Estatal vendeu recentemente outras refinarias que possuía no Amazonas e na Bahia durante o governo Bolsonaro.

Há expectativa no mercado de que o preço do barril possa passar dos US$ 100. Especulação ocorre após ataque dos EUA, mas somente com a abertura dos mercados nesta segunda é que será possível saber o preço do barril. O preço atual se aproxima dos US$ 80.
Araújo explica que o preço do diesel da Petrobras já estava defasado em R$ 0,50 e a da gasolina em R$ 0,20. Dados foram levantados pela Abicom na última sexta-feira levando em conta preço do barril de petróleo a US$ 77.

Segundo Sérgio Araújo, cerca de 25% do diesel consumido no país e 10% da gasolina dependem de petróleo importado. “As refinarias privadas atualizam os preços semanalmente, como é comum no mercado. Só a Petrobras adota a prática de manter a defasagem dos preços, mas ela pode ter dificuldades em manter os valores desatualizados se o preço do petróleo disparar”, afirma.
Estatal pode ter pressão de acionistas. Na avaliação dele, manter uma defasagem muito alta pode levar a questionamentos de acionistas da Petrobras no médio prazo.
Para economista, tendência de alta de preços do petróleo pode se refletir na inflação de outros produtos também. Bruno Imaizumi, da LCA inteligence, afirma que o aumento no diesel pode refletir indiretamente em outros produtos que dependem do transporte de caminhão para chegar até os consumidores.

“Caso ocorra o fechamento do estreito de Ormuz, cerca de 20 a 30% da produção global de petróleo poderá ser afetada. Outros produtores até poderiam produzir mais, mas não a tempo de evitar uma alta de preços generalizada.”

Bruno Imaizumi, economista da LCA 4 inteligence.

Autor/Veículo: UOL*
Extraído do site: UOL