Petrobras deveria reajustar combustíveis entre 7% e 8%, calcula banco

14/01/2025 – O avanço recente da cotação do dólar e do preço internacional do petróleo ampliam a defasagem da gasolina e do diesel vendidos pela estatal, que atingiu o maior patamar desde julho do ano passado: 13% e 22%, respectivamente, nesta semana.

Enquanto a Petrobras não decide sobre um aumento, a diferença entre os preços praticados nas refinarias e os internacionais (que balizam o custo da parcela de combustíveis importados que o país precisa para dar conta de toda a demanda) só cresce.

Segundo as contas de economistas do Santander, a estatal deveria aplicar um reajuste de 7% a 8% se quisesse manter essas diferenças nas médias históricas, calcula relatório do banco, divulgado na semana passada.

Mesmo assim, a redução das preocupações com os dividendos (principal forma de uma companhia repassar o lucro aos acionistas), somada a uma série de outros fatores, tem evitado a queda das ações da empresa.

A Petrobras fez um pagamento extraordinário de R$ 20 bilhões de dividendos no fim do ano, lembrou Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike. Em 2024, a distribuição dos lucros foi motivo de uma crise entre o antigo presidente da estatal, Jean Paul Prates, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, contribuindo para a demissão do primeiro.

Prates acabou substituído por Magda Chambriard, que foi presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP) no governo Dilma Rousseff.

Mas ele pondera que, mesmo assim, a estatal tem um “custo de oportunidade” quando deixa de lucrar mais ainda com preços de combustíveis mais elevados no Brasil.

A mudança de patamar de produção faz com que em torno de 85% da receita da Petrobras venham da produção de petróleo e da sua venda para fora, segundo Vitor Sousa, analista de petróleo da Genial Investimentos. A produção de combustíveis nas refinarias responde por menos de 15%.

— Se, por um lado, a Petrobras tem adotado uma política de preços que reduz as margens de lucro da área de refino, a alta do dólar e do petróleo também acaba beneficiando as receitas oriundas da exportação — diz Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.

Endividamento baixo

Nos pregões seguintes ao anúncio dos dividendos extras, os papéis da petroleira subiram e começaram 2025 em alta — após forte valorização em 2023 e 2024. Ontem, fecharam praticamente estáveis, acumulando, nos primeiros dias do ano, alta de 3,9% nas ações ordinárias (ON, com direito a voto). Já as preferenciais (PN, sem voto) acumulam alta de 2,4%. Em 2023, a alta foi de 73,8% e 94,4%, respectivamente. Ano passado, de 21,4% e 18,1%.

Segundo analistas ouvidos pelo GLOBO, além do alívio em relação aos dividendos, uma série de fatores compensa eventuais efeitos negativos da diferença para os preços internacionais. Estes incluem a mudança de patamar da produção, com o desenvolvimento do pré-sal, que eleva a receita com exportações; o endividamento baixo; o plano de negócios dentro do esperado por analistas e investidores; e o fato de que não há sinais de que a Petrobras assumirá toda a importação de combustíveis para segurar os preços, como ocorreu há pouco mais de dez anos, no governo Dilma.

— Esses aspectos mudam um pouco a exposição da Petrobras em relação à que já foi no passado — afirma Regis Cardoso, head de Óleo, Gás e Petroquímicos da XP Investimentos.

Sousa, da Genial Investimentos, acrescenta ainda que as ações da Petrobras “estão baratas”, à luz de variáveis como geração de caixa, lucros e endividamento, e dado o risco político de ser uma estatal.

Frederico Nobre, chefe de análise da gestora Warren Investimentos, ressalta que a defasagem aumentou na última semana porque as cotações do petróleo subiram com novas sanções contra Rússia e Irã, mas não é crítica:

— A não ser que fiquemos com uma defasagem insustentável durante muito tempo, isso não será um problema tão grande para os resultados.

Autor/Veículo: O Globo*
*Extraído do site: Fecombustíveis