26/09/2019 – A decisão do governo de aumentar de 600 milhões para 750 milhões de litros o volume de etanol que pode entrar no Brasil sem taxação extra de 20% animou parte do setor sucroalcooleiro brasileiro, que confia na ampliação do mercado e reciprocidade na taxação do açúcar. Brasil e Estados Unidos são os principais produtores de etanol do mundo. A última safra brasileira atingiu 33 bilhões de litros de etanol. A indústria nacional do setor também enxerga a possibilidade de China, Índia e Filipinas passarem a adotar a gasolina com 10% de álcool. Para entender a capacidade de produção do etanol brasileiro, o Jornal da USP no Ar conversou com a professora Suani Teixeira Coelho, do Programa de Pós Graduação em Bioenergia da USP, Unicamp e Unesp e coordenadora do grupo de pesquisa em Bioenergia do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP.
O Brasil tem grande potencial de produção do etanol, mas continua a importar dos Estados Unidos. “É uma questão econômica e comercial, calcada em questões ambientais”, afirma Suani. Ela explica que o Brasil exporta etanol para os Estados Unidos a fim de produzir uma mistura entre o etanol brasileiro e o norte-americano, que depois é exportado para o Japão. Isso é feito porque a emissão de carbono do etanol brasileiro, com cana de açúcar, é muito menor do que a do etanol de milho norte-americano, e o Japão tem regras ambientais a serem cumpridas. “Somente o etanol norte-americano não poderia satisfazer a redução de carbono solicitada. ” A professora relembra que o País também exporta para a Coreia do Sul e para a Califórnia.
A plantação de cana no Brasil ocupa nove milhões de hectares, sendo “metade para açúcar e metade para álcool, então é uma área bastante pequena”, comenta Suani. Uma alternativa para expandir a produção de etanol é ocupar áreas que eram de pastagens, como feito pelo Estado de São Paulo no período de 2002 a 2008. A Embrapa fez um estudo que mostra como intensificar a pecuária que poderia liberar 60 milhões de hectares das pastagens para outros usos. “Temos um potencial que pode ser aproveitado de forma sustentável, sem desmatamento, sem encostar na Amazônia. Sem necessidade de um desmatamento adicional, apenas com o uso de terras disponíveis.”
Ela relembra que dia 19 de setembro foi comemorado 40 anos do carro a álcool, que surgiu em 1979. “Se não fosse o uso do etanol, tanto a carro flex como no aditivo na gasolina, nós estaríamos com problemas de poluição ambiental terríveis. Há estudos de colegas na USP produzidos que mostram isso: nos períodos em que diminuiu o consumo de etanol no Estado de SP, a gente teve um aumento na concentração de poluentes”, afirma a professora.
Suani acredita que o caminho é investir em biocombustíveis. “Muito se fala de carro elétrico, e uma das desvantagens é que depende da fonte da eletricidade. Países desenvolvidos falam disso, mas a eletricidade deles vem de termoelétricas a carvão, então na hora de fazer o balanço de carbono não é tão favorável.” Apesar do Brasil ter uma eletricidade apoiada em recursos renováveis, há um problema de infraestrutura para colocar eletricidade a disposição para carros elétricos. “Mesmo assim, temos opções importantes para carros, que é o carro híbrido. Suani acredita que o caminho é investir em biocombustíveis: “Essa área é um investimento importante em termos econômicos, sociais e ambientais para o país.”
Fonte: Jornal da USP