10/01/2025 – A disparada do dólar no fim do ano passado, para um patamar acima de R$ 6,00, ampliou a defasagem entre os preços dos combustíveis da Petrobras e as cotações internacionais dos derivados de petróleo. Apesar disso, conforme o Estadão/Broadcast apurou com pessoas a parda gestão de preços da estatal, um reajuste de preços ainda não está nos planos da empresa. Um aumento de preços dos combustíveis neste momento teria um impacto direto na inflação, que já está em tendência de alta.
Segundo cálculos da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o diesel fornecido pela Petrobras está 16% (ou R$ 0,55 por litro) mais barato do que a média do mercado internacional. A defasagem da gasolina medida pela Abicom está em 10%, ou R$ 0,29 por litro, atualmente. Na última vez em que a companhia aumentou o valor da gasolina, em julho do ano passado, ela estava cerca de 20% abaixo dos preços praticados no exterior.
Desde então, a Petrobras não mexeu mais nos preços. E a tendência, no momento, é de que siga assim. A explicação está na cotação do barril do tipo Brent, que segue flutuando perto dos US$ 75, valor inferior à média de anos anteriores. Assim como o dólar, o preço do barril é um dos parâmetros que influenciam a definição de preços.
Mesmo coma valorização nos últimos dias, com o preço dobar rilBrentcheg andoam ais de US$ 77 – fechou ontem a US$ 76,92 –, a avaliação mais forte hoje na Petrobras e entre alguns analistas é de que os preços devem permanecer estáveis ou cair ao longo do ano, o que compensaria a alta ainda maior do dólar, pelos parâmetros da nova política da companhia.
Avaliação de analista de bancos, como o Citi, corrobora essa tendência. OCitip revê que a potencial quedana cotação dopetróleo nos próximos meses, combinada com a taxa de câmbio mais elevada, deve manter estáveis os preços da Petrobras.
A estatal também questiona o método da Abicom para calcular a defasagem de preços dos derivados. A companhia diz ter maior escala do que importadores de pequeno e médio portes; que a Abicom usa como referência os preços do Golfo do México (EUA), enquanto o mercado brasileiro segue inundado por diesel russo, mais barato; e que a entidade ainda usa parâmetros que não se aplicam à realidade da estatal, como frete internacional.
Em entrevista ao Estadão/Broadcast no fim de dezembro, o diretor financeiro da Petrobras, Fernando Melgarejo, chegou a dizer que não havia intenção em mexer nos preços agora. “Consideramos que não há necessidade de ajuste de preço. Estamos num patamar confortável e seguindo a política de comercialização.”
Mais barato Cotação do barril do tipo Brent tem flutuado em torno de US$ 75, abaixo da média dos últimos anos
O executivo disse ainda que era “cedo” para assumir um novo patamar para o dólar. E lembrou que a Petrobras precisa praticar preços competitivos para não perder participação de mercado, citando o etanol, concorrente natural da gasolina, e os combustíveis trazidos ao País por importadores.
Naquela ocasião, a diferença entre o Preço de Paridade de Importação (PPI) e os preços da Petrobras girava em torno de 13% a 15%, segundo a Abicom.
‘ALÍVIO’. O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Bruno Pascon, prevê “mar calmo” para a precificação de derivados da Petrobras neste ano. “Esse dólar traz, sim, pressão de reajuste para o preço da Petrobras. Virou o ano acima dos R$ 6,00, valorização acima dos 20% no ano ( de 2024), e pode perdurar. É uma incógnita onde isso vai parar. Mas o que já trouxe alívio ao Jean Paul (Prates, ex-presidente da estatal) e continua para a Magda ( Chambriard, a presidente atual) é um preço de petróleo mais baixo.”
“Tudo leva a crer que vai ser um ano de tranquilidade para a commodity, com preço ( do petróleo Brent) entre US$ 70 e US$ 80 por barril, o que não traz pressão de reajuste ( para combustíveis)”, acrescenta.
Segundo Pascon, o CBIE tem rebaixado suas estimativas para o preço médio anual do Brent – que já foi de US$ 85, caiu para US$ 79 e, agora, já está em cerca de US$ 75 por barril – muito em função da demanda chinesa menor e da transição energética em velocidade maior do que a esperada no gigante asiático.
O analista de inteligência de mercado da StoneX, Bruno Cordeiro, concorda com essa perspectiva. “O dólar tem se comportado de maneira bem inesperada, e não é possível definir expectativas. Mas, no caso do Brent, há, sim, uma tendência de desaceleração ( de preços), com perspectiva de que uma demanda global menor vai exercer pressões baixistas nas cotações.”