24/05/2019 – Nova diretora de refino e gás natural da Petrobras, Anelise Lara começou a abrir informações sobre a privatização de oito refinarias, entre as quais a Refap, de Canoas. Em entrevista à coluna, a executiva também comentou a política de preços da estatal, que tem rendido dor de cabeça para o governo federal sob dois pontos de vista: inspira desconfiança em potenciais investidores e irrita a população obrigada a conviver com reajustes frequentes, ao sabor da variação do dólar e das cotações internacionais de petróleo e combustíveis.
Por que a Petrobras reajusta os preços dos combustíveis nas refinarias com tanta frequência?
Se a Petrobras é obrigada a aplicar preços abaixo da paridade de importação e não produz todos os derivados necessários para o país, precisa importar e terá prejuízo, porque vai importar caro e vender barato aqui. Vivemos esse período entre 2011 e 2014 e fez a dívida explodir. Caso a Petrobras venda muito acima da paridade internacional, vem muito importador e desloca (tira mercado) o produto da empresa. De 2016 a 2017, margens foram mais elevadas, e a Petrobras perdeu mercado. Hoje, estão alinhadas ao mercado. Existe uma organização internacional que avalia preço de diesel no mundo, da mais barata à mais cara, a Petrobras está na 60ª posição. Em 105 países, o diesel é mais caro do que no Brasil. O preço que sai da refinaria da Petrobras é mais barato do que o da refinaria nos Estados Unidos. Mas quando soma impostos, distribuição e revenda, na ponta fica mais caro no Brasil do que nos EUA.
E não é possível reduzir o tempo de flutuação, ou seja, de reajuste?
A periodicidade atual está longe de ser diária no diesel, o valor na refinaria está estável há
20 dias. O problema é que, quanto maior a periodicidade, maior o percentual de ajuste, porque deixa de fazer reajustes menores em períodos mais curtos. O que e é melhor?
Ajustes mais curtos e menores, ou mais demorados e maiores?
Como o preço do petróleo e derivados varia muito, isso pode não acontecer, certo?
Pode eventualmente não acontecer porque, se o preço do diesel cai lá fora, se o câmbio cair ou se disparar, não tem como ter controle sobre essas variáveis. O que se busca fazer para dar um pouco mais de segurança nos movimentos que a companhia faz. Contratam-se derivativos no mercado financeiro para se proteger contra oscilações de dólar e diesel.
Mas não dá para fazer derivativos muito longos. É caro, e em alguns casos, não existe, porque o mercado não prevê. No mundo, o minério de ferro subiu mais de 35%, e hoje o preço do diesel está equivalente ao de maio de 2018. A inflação foi de 4%, mas o preço do diesel já caiu e já subiu. Às vezes, só olhamos o que já subiu e não lembra do que caiu. Então, de maio de 2018 a de 2019 praticamente não mudou.
Nesta época de 2018, o nível médio de utilização das refinarias para diesel estava em queda. Houve recuperação?
Isso não procede. Hoje, em termos de utilização das nossas refinarias, estamos em condição bastante adequada. Aproveitar a capacidade operacional máxima da refinaria pode produzir derivados que não têm comprador, pode produzir óleo combustível demais, e gera muitos produtos de baixo valor agregado ou que não têm interessados. Talvez tenha de exportar,
e o preço neste caso é muito baixo. Existe um fator de utilização que consideramos o ideal,
e estamos bem próximos desse patamar . A utilização das refinarias também depende do mercado consumidor.
É realista a expectativa de o Brasil ganhar um grande volume de gás do pré-sal?
É realista para meados da próxima década (entre 2024 e 2025). A demanda de gás no Brasil é de cerca de 75 milhões de metros cúbicos diários, a Petrobras produz 50 milhões de metros cúbicos. A condição ideal é termos produção interna crescente, com aumento da produção do pré-sal, mas para que esse crescimento seja significativo, também há necessidade de infraestrutura, especialmente para levar esse gás da plataforma em alto mar para a terra.
Fonte: Gaúcha ZH*
*Extraída do site Fecombustíveis