‘Não vamos cometer o erro de reajustar preços diariamente’

13/01/2021 – O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, disse ontem ao Valor que a empresa não vai cometer o erro de reajustar os combustíveis diariamente. “Nossa política é ajustar os preços à paridade internacional”, afirmou. A discussão sobre preços dos combustíveis voltou à cena depois de importadores acusarem a estatal de praticar preços predatórios. Castello Branco reagiu dizendo que os cálculos dos importadores não refletem os custos da empresa. “Para eles, o melhor dos mundos é que a Petrobras coloque os preços lá em cima, acima do preço de paridade internacional. Aí viabiliza quem é mais ineficiente”, disparou. Ele disse que a venda da fatia que a Petrobras detém na BR Distribuidora continua no radar, assim como a venda da Braskem. A seguir, os principais trechos da entrevista:

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Valor: Na última semana, a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis [Abicom] protocolou ofício no Cade alertando o órgão antitruste sobre o que a entidade considera como prática de “preços predatórios” por parte da Petrobras. Usinas de etanol e consultorias também apontam para uma defasagem nos preços da companhia, em relação à paridade internacional, e o sinal foi aceso entre analistas do mercado financeiro. A Petrobras está segurando os reajustes dos combustíveis?

Roberto Castello Branco: Em primeiro lugar, há essas associações de importadores que são de pequenos importadores. Eles fazem supostos cálculos que não refletem os nossos custos. O preço de paridade de importação (PPI) não é um valor absoluto, depende de cada um, dos custos de frete, de internação, de logística. Para eles, o melhor dos mundos é que paridade internacional, para eles poderem ganhar em cima disso. Aí inviabiliza quem é mais ineficiente. Temos visto as importações fluírem normalmente. Não tenho os dados de janeiro, ainda é prematuro, mas até dezembro há importações significativas de diesel e gasolina. Quem são os principais importadores?
São as grandes tradings e as grandes distribuidoras: a Raízen, BR, Ipiranga. E ninguém veio reclamar conosco de nada, que não está conseguindo importar. Segundo, quanto às reclamações do mercado [financeiro], é gozado. Eles estão preocupados, reclamando que estamos segurando os preços e o preço da nossa ação ontem [segunda-feira] bateu no high [maior valor] em 12 meses. O pessoal continua a comprar ações e acha que estamos fazendo bobagem. Ou são investidores irracionais ou querem jogar conversa fora. Porque isso não está sendo refletido nos preços do mercado. Terceiro ponto: seguimos paridade internacional seguindo o preço do combustível. E entre o preço do petróleo e o preço de cada combustível existem diferenças. Não estamos comprometidos em cometer o erro de ficar reajustando diariamente. Para estar em linha com a paridade internacional, precisaria ficar colocando um robozinho de olho na cotação internacional reajustando toda hora. Isso não é bom.
A Petrobras é um produtor de combustíveis, não é um trader de combustíveis. Os preços de commodities oscilam todo dia. Então somos pacientes, agimos com frieza, profissionalismo e reajustamos de acordo com o preço internacional e de acordo com as forças de mercado.

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Valor: Existe um histórico de uso da Petrobras como ferramenta de controle de inflação que liga o sinal de alerta de analistas do mercado financeiro em momentos em que a companhia segura reajustes…
Castello Branco: Não existe essa coisa de segurar preços para conter inflação. Isso, profissionalmente, é uma ofensa a mim, ao presidente do Banco Central [Roberto Campos Neto] e ao ministro da Economia [Paulo Guedes]. Nós três somos economias graduados. [Guedes e eu] aprendemos há mais de 40 anos – no caso do Roberto Campos menos tempo, porque ele é mais jovem que nós – que controle de preços foi remetido ao museu de armas ineficazes de combater inflação. Em nenhum momento eu fui pressionado e questionado por ninguém do governo, inclusive pelos responsáveis pela inflação: o presidente do Banco Central, o ministro da Economia, o presidente da República, o ministro das Minas e Energia ao qual a Petrobras responde. Ninguém me pressionou porque sabe que eu não vou atender. O Paulo Guedes e o Roberto Campos sabem que seria um absurdo total. Eles são profissionais, agem profissionalmente, jamais iriam fazer isso. Eu, como profissional, sou economista e prezo muito pela minha profissão. Existe a paixão pela profissão e a paixão pela profissão não vai embora nunca. Não vou fazer algo que vai contra o que aprendi, que vai contra a minha experiência. De maneira nenhuma.

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Valor: O quanto a Petrobras responde hoje pelo abastecimento do mercado doméstico?
Castello Branco: O market share da Petrobras flutua em torno de 75% a 80% do diesel e da gasolina. A Petrobras mudou bastante no aspecto da comercialização. Antes a Petrobras tinha o conforto de ter [o controle da] BR [Distribuidora], que tinha contrato exclusivo [com Petrobras]. Hoje não temos nem distribuição de combustíveis líquidos nem de GLP [[gás liquefeito de petróleo]. A Liquigás foi vendida e ainda temos 37,5% da BR, mas não mandamos nada lá, pretendemos vender o resto. É só o mercado possibilitar uma oportunidade. Estamos nos preparando para um mercado de maior competição, vão ter outros players, outras empresas com refinarias. Nossa produção de petróleo vai aumentar,precisamos vender mais internacionalmente. Nossa comercialização mudou. Temos 36 pontos de venda com preços diferenciados, fazemos leilões para entrega futura baseado em preços futuros da Nymex, o processo se tornou muito mais dinâmico que antes.

Valor: Nesses primeiros dias do ano a Petrobras está com defasagem ou preços iguais à paridade?

Castello Branco: Nossa política é de ajustar na paridade de preços internacionais ao longo do ano, com a margem pelo risco. Em determinados momentos podemos estar abaixo da paridade, outros estamos acima. Oscila. Aprendi com a experiência, trabalhei 15 anos numa empresa de commodities, a Vale. Já estou começando o terceiro ano na Petrobras. O preço das commodities é volátil. Então, diante de notícias, se é uma notícia… por exemplo, se a Opep resolveu não aumentar a produção, é uma surpresa para o mercado, o preço sobe. Tem o que a gente chama de lucro de volatilidade. Os participantes do mercado ficam ajustando seus preços de acordo com as expectativas para o futuro, e aí há tem muita volatilidade. Então, sabedor disso, na teoria e na prática, observamos o que vai dar. Quando a gente tem maior confiança, ajustamos. Já fizemos isso ano passado, em 2019… O que nós estamos fazendo agora não é nada novo, vamos fazer a mesma coisa. Somos monótonos, somos repetitivos. Não temos essa criatividade, essa inteligência… ninguém na Petrobras hoje é mágico. Para ler esta notícia, clique aqui.

Fonte: Valor Econômico*
*Extraído do site Fecombustíveis

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