Inflação desacelera em outubro e fica em 0,09%, menor resultado para o mês desde 1998

Na esteira da redução na conta de luz, a inflação oficial no País desacelerou de uma alta de 0,48% em setembro para uma de 0,09% em outubro, o porcentual mais baixo para o mês desde 1998. Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta terça-feira, 11, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O resultado ficou praticamente no piso das estimativas de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam um avanço entre 0,08% e 0,21%, com mediana positiva de 0,14%. Como consequência, a taxa acumulada em 12 meses voltou a arrefecer, descendo a 4,68% em outubro, menor patamar desde janeiro.

“A queda nos preços das commodities (matérias-primas cotadas em dólar) e a desvalorização do dólar frente ao real têm contribuído para aliviar a pressão sobre os alimentos e os bens industriais”, avaliou Claudia Moreno, economista do C6 Bank, em comentário.

Após a divulgação, o C6 Bank revisou a projeção para o IPCA de 2025, de 5% para 4,5%, ou seja, no teto de tolerância da meta de 3%. O banco reduziu ainda de 5,2% para 5% a previsão para a inflação de 2026. O banco UBS BB também cortou sua projeção para a taxa de inflação fechada em 2025, de 4,6% para 4,5%, seguida de alta de 3,8% em 2026.

Em meio à melhora nas projeções, o estrategista-chefe da EPS Investimentos, Luciano Rostagno, avalia que o IPCA de outubro veio sim um pouco melhor, mas mantém sinais que demandam cautela, como a inflação de serviços ainda elevada.

“Fundamental aqui não é o IPCA de hoje, mas entender o cenário com o qual o BC se depara que é de inflação de serviços caindo lentamente e desancoragem das expectativas. Então o IPCA não muda o cenário (para o Comitê de Política Monetária do Banco Central), porque é como se tivesse olhando pelo retrovisor, mas claro que quando um número vem mais baixo e na medida que o BC vai acumulando informações, a gente vai criando confiança com o cenário”, corroborou o economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano.

A inflação de outubro foi consideravelmente aliviada pela redução na energia elétrica residencial, avaliou Fernando Gonçalves, gerente de Índices de Preços no IBGE. A energia elétrica ficou 2,39% mais barata no mês, maior impacto individual negativo, -0,10 ponto porcentual no IPCA.

Houve mudança da bandeira tarifária vermelha patamar 2, vigente em setembro, para a bandeira vermelha patamar 1 em outubro, reduzindo a cobrança adicional na conta de luz a cada 100 Kwh consumidos. Sem a influência da energia elétrica, o IPCA teria sido de 0,20% em outubro, calculou o pesquisador do IBGE.

Já os preços dos alimentos tiveram ligeira alta de 0,1% em outubro, após uma sequência de quatro meses de quedas.

“O final do ano tem tradicionalmente pressão de preços de alimentos, um aumento sazonal de demanda de alimentos no fim de ano, e algumas safras já colhidas”, disse Fernando Gonçalves, do IBGE. “Pode ser que o momento de contribuição negativa (dos alimentos para a inflação) já tenha ficado para trás, conforme anos anteriores.”

O custo da alimentação no domicílio caiu 0,16% em outubro, com destaque para as reduções no arroz (-2,49%) e no leite longa-vida (-1,88%).

“Alguns alimentos estão com safra abundante ainda, outros já arrefeceram”, citou Gonçalves.”

Houve pressão também dos aumentos nos preços da passagem aérea, com alta de 4,48%, contribuindo sozinha com 0,03 ponto porcentual para o IPCA de outubro, subitem de maior pressão na inflação do mês, ao lado de aluguel residencial (0,93%).

Quanto aos combustíveis, com exceção do óleo diesel, que caiu 0,46%, os demais aumentaram em outubro: etanol (0,85%), gás veicular (0,42%) e gasolina (0,29%).

“A projeção para 2025 tem risco assimétrico para baixo, em função do comportamento benigno dos preços de alimentos e de itens industrializados, e dos níveis apreciados do real, em relação ao dólar, embora a persistência das pressões sobre serviços limite a magnitude da revisão”, apontou Matheus Ferreira, analista da consultoria Tendências. “Para novembro, a expectativa é de aceleração moderada.”

Ferreira estima uma deflação nos preços da gasolina, mas um aumento sazonal nos preços dos alimentos. “Como contraponto, a ocorrência da Black Friday acarretará redução dos preços dos itens industrializados”, acrescentou.

Autor/Veículo: O Estado de São Paulo
Extraído de Fecombustíveis