20/08/2024 – A América Latina tem potencial para liderar o fornecimento global de hidrogênio renovável, capturando 25% a 33% da demanda, até 2030, projeta relatório do Fórum Econômico Mundial (WEF, em inglês), em parceria com a Accenture, publicado na última semana.
Abundantes recursos renováveis como solar, eólica e hidrelétrica, portos estratégicos e apoio político desenham um cenário em que a região estaria apta a fornecer commodities de baixo carbono competitivas e rivalizar com com grandes players como a Austrália (22%–31%) e a África (9%–14%).
A estimativa é que o custo nivelado de hidrogênio renovável/verde da região deverá ser particularmente baixo para a produção no sul da Argentina e Chile, noroeste do Brasil e norte da Colômbia e Venezuela já no final da década. Europa e Ásia deverão ser as principais compradoras.
“Essas condições favoráveis – de alta capacidade de energia renovável e baixo custo de produção de hidrogênio limpo – podem posicionar a região como um potencial exportador líquido para mercados globais, tanto no médio quanto no longo prazo”, diz o relatório.
O estudo identificou 11 potenciais hubs de hidrogênio limpo na América Latina, em países como Chile, Brasil e Panamá. Concorrentes como Estados Unidos e Austrália anunciaram 10 e sete, respectivamente.
Diferentes estratégias
Embora a análise enxergue a região como provável exportadora líquida de hidrogênio limpo no longo prazo, os países da região têm diferentes estratégias e ambições para desenvolver essa nova economia, com três caminhos:
Cita o potencial de exportadores líquidos (Chile e Argentina), descarbonizadores locais (Brasil, Colômbia e México) e atores focados, como Panamá e Uruguai, concentrados no desenvolvimento de hubs de combustíveis verdes para o transporte marítimo.
Brasil, Colômbia e México, que enxergam diversas possibilidades de aplicação do hidrogênio, são indicados pelo WEF como futuros descarbonizadores locais.
Isso significa usar o energético como insumo na indústria para fornecer aço, fertilizantes, cimento, combustíveis e outros produtos com baixa intensidade de carbono – fortalecendo suas cadeias produtivas e exportando bens com maior valor agregado, em um estágio mais adiante.
O relatório observa que as estratégias publicadas até o momento – como o Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2) do Brasil – ainda não definiram projeções claras de demanda para mercados internacionais e os projetos confirmados buscam aumentar a capacidade de produção para atender à demanda local futura.
Situada entre dois oceanos e com um suprimento de água seis vezes superior à média mundial, a ambição da Colômbia é chegar a 2050 com 40% do hidrogênio consumido pelo setor industrial de origem renovável. Para isso, o país está oferecendo benefícios fiscais associados às reduções de emissões.
Já o México, embora ainda não tenha uma estratégia nacional para desenvolver uma economia de hidrogênio, tem nove projetos em diferentes fases de desenvolvimento para eletrólise e produção de amônia verde.
A Associação Mexicana do Hidrogênio prevê que até 2030 a maior parte da demanda virá de setores como vidro, cimento e produtos químicos, enquanto até 2050 o setor de transportes assumirá a liderança no consumo.
Custos competitivos
De acordo com o WEF, o custo nivelado do hidrogênio na América Latina varia de US$ 3,70 a US$ 5,90 por kg, atualmente, já abaixo da média global de US$ 3,80 a US$ 8,50 por kg.
Até 2030, países como Argentina e Chile pretendem ter custos de produção tão baixos quanto US$ 1,20 a US$ 1,50 por kg, o que pode torná-los os produtores mais econômicos do mundo.
No caso do Brasil, o relatório aponta que o preço médio hoje fica entre US$ 2,87-3,56 o kg/H2 renovável, podendo chegar a cerca de US$ 1,90 kg/H2 em 2030 e US$ 1,20 em 2050, e capturar 10% do mercado global.
Brasil pode privilegiar baixa emissão
Depois de aprovar o marco regulatório do hidrogênio de baixo carbono ampliando o teto de emissões para 7 kgCO2/kgH2, o Congresso Nacional agora pode limitar a concessão de incentivos fiscais de acordo com a intensidade de carbono.
Isto é, quanto menor a emissão de CO2 do projeto, maior poderá ser o benefício fiscal.
Na semana passada, ao aprovar o PL 3.027/2024, com regras para concessão de R$ 18,3 bilhões dentro do Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (PHBC), a Câmara dos Deputados decidiu incluir um dispositivo estabelecendo que o percentual de crédito poderá ser inversamente proporcional à intensidade das emissões de gases de efeito estufa (GEE) associadas à produção do hidrogênio.
O texto aprovado é um substitutivo elaborado pelo deputado Arnaldo Jardim (Cidadania/SP), que busca corrigir o capítulo dos créditos fiscais vetado pela presidência da República durante a sanção do marco, mas por outros motivos. Relembre
A nova redação aguarda apreciação no Senado.