Após um ano de reajustes praticamente diários, a gasolina vendida pela Petrobras em suas refinarias ficou cerca de 46% mais cara: em agosto do ano passado, o valor médio do litro era R$ 1,360. Em agosto deste ano, a média chegou a R$ 1,987. Nos postos, o aumento foi bem menor: 18%. Será que os postos foram camaradas com os clientes e perderam dinheiro?
Definitivamente, não. Para começar, ambos os reajustes foram bem superiores à inflação no período, de 4,19% pelo IPCA. Na bomba, a gasolina aumentou de R$ 3,768 em média em agosto de 2017 para R$ 4,445 em agosto deste ano, segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). É um valor médio, considerando todo o país, mas varia muito de estado para estado.
Poderia parecer que os postos perderam dinheiro, mas é apenas uma pegadinha percentual, porque os valores são calculados sobre bases diferentes (o preço na refinaria é menor, e por isso a porcentagem é maior). Mas, em reais, os postos aumentaram até mais: o preço nas bombas subiu R$ 0,677, enquanto nas refinarias o aumento foi de R$ 0,627.
Aumento em centavos
“Os postos não estão perdendo e, olhando os números, há até a indicação de que eles tiveram um pequeno aumento de margem”, disse o economista Walter de Vitto, analista de energia da Tendências Consultoria, que comparou a composição dos preços da gasolina em 2017 e em 2018, a pedido do UOL.
Segundo ele, a maneira mais precisa de fazer a comparação é olhando a variação absoluta dos preços, isto é, os aumentos em centavos.
Neste caso, a diferença entre o que a Petrobras cobrou a mais pela gasolina que saiu de suas refinarias e o quanto o consumidor pagou a mais, de fato, na bomba, é bem pequena e até se inverte: o litro do combustível bruto, na refinaria, ficou em média R$ 0,627 mais caro, e nos postos, o aumento foi de R$ 0,677, alguns centavos a mais.
As diferenças percentuais, afirmou Vitto, acabam acontecendo até por uma questão estatística, já que o aumento de cerca de R$ 0,60 vem de uma base de preço muito menor na refinaria (R$ 1,36) do que no posto (R$ 3,77). “A comparação por taxas é um pouco ilusória, porque a gasolina é só uma parte do preço do combustível no posto”, disse ele.
Outros componentes entram no preço
“Menos da metade do valor da gasolina que colocamos em nosso carro é de fato o custo do insumo, da gasolina em si”, disse o professor de planejamento energético da Coppe/UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) Alexandre Szklo. “Até chegar à bomba, entram todos os impostos, os custos de operação, salários e as margens das distribuidoras e dos postos.”
Todos esses itens, dizem os especialistas, mudam em ritmos diferentes e ajudam a explicar as diferenças de variações nos preços do combustível a cada etapa.
Procurados, os sindicatos que representam os postos de gasolina do estado de São Paulo (Sincopetro), do estado do Rio de Janeiro (Sindestado-RJ) e da cidade do Rio (Sindcomb) não responderam.
A Fecombustíveis (Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes), entidade que representa os postos em nível nacional, disse que a formação de preços é livre e que a federação não comenta as políticas de preço dos associados.
Margens maiores
Além da matéria-prima em si, outra alta embutida no preço final da gasolina é o aumento da margem dos postos –uma conta simples comumente feita pelo setor que considera a diferença entre o que o estabelecimento paga pela gasolina que compra na distribuidora e o preço final que coloca nela na bomba, ao consumidor.
Houve um aumento de 5% nessa margem em agosto ante mesmo mês do ano passado, de R$ 0,43 para R$ 0,45 por litro, na média.
“Mas essa é uma margem bruta, que cobre não só o lucro do varejista, mas também todos os custos dele”, afirmou Vitto. “Entram fatores como frete, manutenção e mão de obra, que também estão em tendência de alta e podem explicar o aumento.”
Em termos percentuais, as margens dos postos ficaram um pouco menores: em agosto de 2017, 11,4% do preço da gasolina pago pelo consumidor no posto era a margem bruta do estabelecimento, o que caiu para 10,1% em agosto deste ano.
Etanol amorteceu aumento para consumidor
Com safra e produção em alta, o etanol ajudou a reduzir o aumento da gasolina nos postos.
Isso acontece porque, quando chega à bomba, a gasolina deve ter 27% da sua composição em etanol, e o biocombustível subiu consideravelmente menos do que ela: de agosto do ano passado para agosto deste ano, a alta no preço do etanol anidro foi de 7%.
A mistura é feita dentro das distribuidoras, que são as responsáveis por comprar a gasolina pura vendida nas refinarias, fazer a diluição exigida e revender para os postos.
“A gasolina que sai da refinaria não tem a mistura de etanol, é gasolina pura”, disse Vitto. “O que explica boa parte da diferença nos aumentos é o etanol, que teve uma variação bem menor e puxa a média do reajuste para baixo.”
Para fazer as comparações, Vitto usou a média mensal dos preços nas refinarias, divulgados pela Petrobras em seu site, e nas distribuidoras e nos postos, acompanhados pela ANP.
Segundo o economista, usar a média mensal é uma maneira de diminuir as distorções causadas pelas oscilações muito frequentes. As empresas trabalham com estoques, e demora alguns dias para que um novo preço anunciado na refinaria chegue, de fato, à distribuidora e ao posto.
Fonte: UOL Notícias*
*Extraída do site UDOP