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Self-service: Minaspetro entrevista executivo da rede que ganhou autorização de operação no Sul do país

05/05/2022 – O Mercado varejista de combustíveis se movimentou com a autorização concedida pela 1ª Vara Federal de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, para que os postos da Rede Mime comecem a operar por meio de autosserviço, ou seja, sem a presença do frentista.

O juiz entendeu que a Lei Federal 9.956/2000, que obriga os postos a contratarem os colaboradores para o abastecimento dos clientes, é incompatível com a Lei de Liberdade Econômica e a Lei de Inovação Tecnológica.

A medida abre um precedente importante, mas sobretudo, traz muita polêmica para o mercado. Não é consenso entre os revendedores que o self-service seja benéfico para a operação, principalmente por questões de segurança, tempo de abastecimento e possibilidade de verticalização – quando as próprias distribuidoras possuem postos.

Para saber mais sobre todo o processo legal, político e legislativo, o Minaspetro conversou com Gabriel Wulff, diretor executivo da Rede Mime, responsável pela ação judicial que autorizou a medida.

– Como foi todo o processo até conseguir a decisão favorável?

Em agosto de 2021, foram emitidas as duas MPs (1069 e 1063), que falavam de venda direta de etanol, delivery etc. E alguns deputados fizeram emendas a elas, como a do Kim Kataguiri, que nos chamou a atenção na questão do self-service. Nós, internamente, decidimos colocar uma atenção especial no assunto. Como vice-presidente do Sindicato de Santa Catarina, procurei os demais presidentes da região e um consultor ex-Raízen, o James Assis, que tem um excelente trânsito no meio político e institucional, solicitando para nos auxiliar em como poderíamos contribuir com a pauta. Nos reunimos com o pessoal do Sindicato do Paraná, em Curitiba, e começamos a desenhar um plano de trabalho. Dividimos o trabalho em uma frente parlamentar/política, uma administrativa junto à ANP e uma Jurídica.

Tivemos diversas reuniões em Brasília, e no setor político caminhou bem a ideia. Conseguimos fazer um Projeto de Lei no Senado com o senador Oriovisto Guimarães (Podemos –PR), conhecemos no caminho o deputado Gilson Marques (NOVO-PR), que tem um Projeto de Lei na Câmara.

Fomos à ANP e pedimos a possibilidade de testar a ideia fora do ambiente regulatório, assim como foi feito para o delivery meses atrás. A Agência foi bem solícita, mas esbarraram um pouco na legislação e acabaram declinando o pleito. A ideia então evoluiu para que entrássemos com uma ação bem fundamentada sobre a inconstitucionalidade da Lei vigente, uma vez que novas Leis foram surgindo, como a da Inovação e da Liberdade Econômica.

Nossa tese era que a Lei vigente estava obsoleta e feria a liberdade de escolha. Nessa defesa, portanto, argumentamos para o Judiciário que aqui na nossa região temos uma realidade de pleno emprego e dificuldade de repor a mão-de-obra e salientamos a questão de qualidade de vida, modernização, inovação e gerar a opção do consumidor em ter uma experiência diferente no ambiente de posto, conseguimos então a vitória, e autorização para iniciar imediatamente os trabalhos de self-service!

– E quais são os próximos passos de vocês diante da decisão?

Fomos surpreendidos positivamente, andou mais rápido que imaginávamos. Estamos atentos a experiência do consumidor e segurança da operação; voltamos à ANP com essa decisão para pedir apoio e contribuir na organização do trabalho. Vamos envolver ainda Corpo de Bombeiros, prefeituras, sindicatos laborais para que, juntos, consigamos construir este sistema híbrido. A ideia é organizar para que o cliente faça a escolha: quero me auto-atender ou ser atendido. Temos, claro, alguns desafios a superar, como a questão tecnológica, como se dará a emissão do cupom fiscal físico, para que tudo esteja bem-feito e organizado. Nada que não exista ou que já não tenha sido testado. Apenas ajustado a nossa realidade. A ideia é fazer com que o cliente valorize esta nova experiência e consigamos fortalecer cada vez mais essa inovação.

– Uma das questões que permeiam o assunto é o tempo de abastecimento, que pode aumentar com o cliente fazendo o processo. Como vocês estão vendo isso?

Temos um programa aqui na empresa chamado GEPs (Gestão Estratégica de Pessoas). Medimos o quão ocioso fica nossa equipe no período de trabalho. E a ociosidade do time de pista é o menor, mas é na média cerca de 40%. Ou seja, em 40% do tempo nossa equipe não atende ninguém. Penso que esse tempo de abastecimento não é problema, superamos isso com tecnologia, treinamento e monitoramento.

– Vamos falar um pouco da operação em si, como vocês estão imaginando a questão de quantos gerentes por bomba, por exemplo, vocês já têm essa ideia?

Primeiro: como o cliente vai pagar? Se em dinheiro, ele vai ao caixa, paga, destrava o bico e pronto. Ou ele pode liberar a bomba via app, com solução embarcada de pagamento. A outra solução é um totem de pagamento ao lado da bomba ou na própria bomba, onde ele vai colocar o cartão, realizar a autorização, parecido como funciona bem no exterior.

Não acredito em demissões no momento, porque nosso time vai estar engajado totalmente a treinar o pessoal a usar a nova solução. Teremos pessoas que vão querer pagar pelo serviço ainda, não vão ver valor no self-service, ou seja, um período de transição que vai levar anos de adaptação, na minha opinião. Vamos ter região que não vão querer implantar o auto-abastecimento, seja por ter um consumidor de alto poder aquisitivo ou mão-de-obra em abundância; e também regiões onde as pessoas são mais modernas, mais conectadas, onde o serviço vai fluir melhor e com mais velocidade.

Ou seja, quem vai escolher isso é o consumidor. Vejo hoje nosso frentista evoluindo para um curador de vendas de itens de pista, incentivador de venda de aditivados, ocupando novas funções que vão nascer no posto. Como temos que investir muito em capital humano, acabamos não tendo outros serviços adicionais, como uma loja de conveniência melhor, uma troca de óleo mais desenvolvida, um lava-jato automático. Vamos buscar outros meios de ocupar essa mão-de-obra e não trabalhando no trivial, que é o abastecimento, a parte mais fácil do nosso posto e que a gente a complica.

– No modelo híbrido, vocês estão pensando em diferenciação de preços para ser atendido e auto-atendimento?

Trabalhamos aqui com os aplicativos, que tem um preço final diferenciado. A bomba trabalha com o preço cheio, mas a partir do momento que o cliente escolhe pagar no app, há uma regra de preços que faz o desconto automático. Acredito que vai seguir a mesma lógica: a bomba vai trabalhar com um preço de serviço atendido e um desconto para quem se abastecer. Simples de operacionalizar. Com certeza haverá uma diferenciação, não adianta a gente se enganar. Para alguns consumidores o que vale é a agilidade, o empoderamento, a experiência, não somente o preço. Tem clientes que valorizam preço, outros a agilidade. Costumamos generalizar o comportamento do consumidor, e os dados nos mostram que o cliente consome do jeito que ele quer e não como nós condicionamos.

– Com relação à segurança jurídica para implementação da medida, como vocês estão vendo isso?

Sabemos que é decisão em primeira instância, que pode ser contestada. Existem interesses diversos, existem pessoas prós e contras, sabemos dessa discussão, temos essa dúvida no próprio setor. Há ainda desmitificação da questão empregatícia que precisa ser entendida.

É uma mudança disruptiva, sempre teremos pessoas contra e a favor. Essa primeira vitória trouxe a discussão de forma mais clara e relevante, e ficou claro que chegou a hora de falar sobre isso. Debatemos o assunto e construímos uma solução que seja benéfica para o consumidor, para o setor e a sociedade. Tenho convicção que a lei que proíbe o self service está obsoleta.

A decisão judicial gera segurança para classe política, a partir do momento que um juiz federal que é um amplo conhecedor das leis, avalia a evolução delas e a necessidade de adequar a regulação a nova realidade. Como representantes setoriais, temos que ser protagonistas deste debate, para que façamos um negócio bem-feito e organizado.

– Quando se fala em self-service, obrigatoriamente emerge a questão da verticalização. Quais os riscos de isso acontecer?

A verticalização pode acontecer mesmo sem self-service. Na nossa rede, apenas 45% da equipe são de frentistas. A complexidade da quantidade de pessoas não vai gerar atratividade por este movimento, continuamos sendo um grande empregador. Uma companhia pode aportar dinheiro em uma empresa separada e operar os postos que ela ostenta bandeira, por exemplo. Isso já acontece. Penso que a companhia vai querer verticalizar no momento que for atrativo. Entes de fora podem vir e sentir que o mercado é interessante, acredito que competitividade e verticalização podem acontecer com ou sem self-service, não penso ser um facilitador.

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