Petrobras busca tanques para estocar mais gasolina

06/05/2020 – A Petrobras tem consultado distribuidoras em busca de tanques para guardar provisoriamente sua produção de gasolina, em um momento em que decidiu ampliar a produção de suas refinarias, tanto para garantir o abastecimento de gás de cozinha quanto para produzir combustível de navegação. A estratégia indica gargalos na capacidade nacional de armazenamento de derivados de petróleo em meio à pandemia do coronavírus, que derrubou as vendas de combustíveis automotivos no País. Segundo autoridades, porém, ainda não há problemas para estocar petróleo.

As vendas de gás de cozinha cresceram 12% em março após o início das medidas de isolamento para conter a contaminação pelo novo coronavírus. A expectativa do setor é que o número de abril venha ainda maior, já que considera o mês inteiro de isolamento.
O cenário levou a Petrobras a intensificar as importações do combustível, mas há gargalos também na estrutura para trazer o produto. Gasolina e gás de cozinha são produzidos nas mesmas unidades de refino, o que significa que o aumento a produção de um deles amplia também a do outro.

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A redução do nível de utilização das refinarias havia sido anunciada no início da pandemia, mas foi revertida na semana passada. Além da demanda por gás de cozinha, a Petrobras vem sendo beneficiada pela maior procura, no mercado internacional, por combustível de navegação menos poluente, que o óleo do pré-sal é capaz de produzir. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações de óleos combustíveis estão em elevados patamares apesar da crise.

Na média diária de abril, até a semana passada, foram 71,2 mil toneladas, 47,6% a mais do que no mesmo mês de 2019. O aumento das vendas ocorre desde o fim de 2019, atingiu recorde em fevereiro e se mantém durante a pandemia.
Com baixo teor de enxofre, o petróleo do pré-sal produz combustível para navios mais limpo e é valorizado por isso: em 2019, a Petrobras chegou a vender o barril com prêmio de US$ 4 sobre a cotação do Brent, referência internacional negociada em Londres.
A exportação de petróleo também vem em alta: em abril, a Petrobras atingiu recorde histórico, com a marca de 1 milhão de barris por dia. No início da pandemia, a estatal havia estabelecido um teto para a produção de petróleo em 2,07 milhões de barris, mas também reviu a decisão.
“Com a evolução da demanda por nossos produtos se mostrando melhor do que o esperado, optamos pelo retorno gradual para um patamar de produção média de 2,26 milhões de barris por dia, acompanhado de aumento do fator de utilização da capacidade de refino”, disse a empresa.

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Suas refinarias, que chegaram a operar quase à metade da capacidade na primeira quinzena de abril, estão retomando as operações para produzir mais combustível. No dia 26, segundo o Ministério de Minas e Energia, estavam em pouco mais de 60%.
A mudança de rumos deslanchou um esforço para evitar estrangulamento da capacidade de armazenamento de outros derivados. Uma das estratégias é a busca por tanques de outras empresas para colocar produtos que saem das refinarias com o combustível marítimo.
Em outra frente, a empresa acelerou a realização de leilões de gasolina e diesel com descontos para atrair distribuidoras que ainda tenham tanques disponíveis e queiram aproveitar para guardar produto mais barato. Apenas na semana retrasada, foram realizadas duas ofertas. Não há dados públicos sobre o uso da capacidade de armazenagem de combustíveis no País, mas o setor vê gargalos diante da queda da demanda.

Para especialistas, a situação pode piorar caso o governo aprove a elevação de tributos sobre a gasolina para melhorar a competitividade do etanol. Por algumas ocasiões neste mês, a Petrobras já alertou para os impactos da medida, que é defendida pelos usineiros, sobre suas operações. Segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), refinarias, terminais e distribuidoras no País podem guardar até 137 milhões de barris de combustível, o equivalente a 77 dias de produção de derivados em 2019.
Em nota, a Petrobras confirma que consultou clientes sobre a disponibilidade de tanques para estocar temporariamente seus produtos. Já a infraestrutura para armazenar petróleo tem “folga razoável”, diz a companhia.

Postos enviam carta a Bolsonaro contra aumento de tributo

Entidades que representam donos de postos de gasolina enviaram carta ao presidente Jair Bolsonaro se posicionando contra a proposta de aumento de impostos sobre a gasolina, que vem sendo negociada pelos produtores de etanol. Na sexta-feira, o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), que integra a Frente Parlamentar da Agropecuária, afirmou que o governo já tomou a decisão de elevar em R$ 0,20 por litro a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), que, hoje, é de R$ 0,10, e instituir imposto de importação sobre a gasolina.

O Ministério da Economia afirmara que nenhuma decisão havia sido tomada. “Esse aumento viria em um momento completamente inoportuno para a revenda de combustíveis, que também está em crise, com queda vertiginosa nas vendas”, dizem os donos de postos na carta, que é assinada pela Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis) e por 34 sindicatos. Os donos de postos sugerem que, em vez de ampliar o imposto sobre a gasolina, o governo zere a alíquota de PIS/Cofins sobre o etanol, que também é um dos pleitos dos usineiros.

Em abril, o setor de açúcar e etanol pediu um pacote de medidas de apoio ao governo para ajudar as usinas a passar pelo momento mais crítico da crise provocada pelo coronavírus. Entre as reivindicações estavam o aumento da Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico (Cide de R$ 0,10 para R$ 0,30 no litro da gasolina e o aumento da alíquota de imposto de importação de zero para 15%. As usinas também pedem financiamento para estocar 6 bilhões de litros de etanol e a suspensão do PIS/Cofins.

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O aumento da Cide sobre a gasolina torna o etanol mais competitivo. “O consumo de gasolina já está muito baixo. Houve uma queda forte. Por que beneficiar uma categoria que tem recebido ajuda do governo há mais de 500 anos?”, ressaltou José Alberto Paiva Gouveia, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro).

Fonte: Jornal do Comércio

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